Todo dia, tudo sempre igual – mas nem tanto

Quando se tem uma parceria de quase três décadas, a conquista de um acaba sendo um pouco do outro, e precisa ser celebrada

Durante a animada sessão de autógrafos do novo livro do Márcio Pinheiro (O que não tem censura nem nunca terá, da L&PM), em Porto Alegre, nosso amigo Felipe Pimentel zombou: “Como é que o Marcito consegue escrever tanto?”. Também brincando, respondi: “Fácil, eu faço todo o resto”. Errada, errada, não estou, mas este não é um texto sobre a sobrecarga feminina (que existe, precisa ser combatida, e o universo e as pessoas próximas sabem o quanto estou e estamos sempre trabalhando para mudar isso).

Faz algumas semanas que, a julgar pelas minhas redes sociais, eu não estou fazendo nada em termos profissionais. Isso porque elas estão dominadas pela nova conquista do jornalista com quem dividido o cotidiano há quase 29 anos e, há pouco mais de 12, a criação (tijolo com tijolo num desenho mágico) de uma menina queridíssima. Com exceção dos inevitáveis posts sobre a tragédia das enchentes que assolaram o nosso Rio Grande do Sul, tenho tratado da alegria de ver mais esse filho nascer. Como o próprio Márcio diz, ele é meio que um irmão do Rato de Redação: Sig e a história do Pasquim, que saiu em 2022 pela Editora Matrix. E, como ocorreu com o Rato, eu tive o privilégio de ser a primeira leitora e fazer o já tradicional “elogio” que costumo fazer aos livros de que gosto e que são escritos por pessoas que eu amo antes de serem escritoras: “parece um livro de verdade”.

O lançamento oficial desta quarta, 19 de junho, dia do aniversário de 80 anos de Chico, tema do livro e paixão absoluta da nossa casa, me deixou de novo com a sensação boa de estar sendo coadjuvante de luxo de um momento muito bacana na vida do meu sócio de vida, compensando com lucro as partes não tão boas.

Ao fim do evento, já de saída, olhei para as prateleiras da Pocket Store e vi a imagem da foto que encima este texto (a bem da verdade, tinha um terceiro livro entre os dois, que eu tirei do caminho para deixá-los bem juntinho com minha inteligência natural). O Chico do Marcito e uma das minhas traduções preferidas, feita no começo do século para a mesma editora: um livro com três histórias divertidíssimas escritas por Woody Allen. Achei tão fofa a coincidência que fotografei, não sem antes fazer piada com a possível mensagem subliminar com o título da minha tradução: Adultérios.

Nas minhas redes sociais, agora, voltamos à programação normal. Aqui em casa, seguimos, com beijos de hortelã, feijão e paixão. Até a próxima conquista de um ou outra e, de certa forma, dos dois.


De 1971, Cotidiano descreve ainda hoje à perfeição a realidade de um casamento, quaisquer que sejam os gêneros e os papéis de gênero dos envolvidos nessa aventura de viver a vida em parceria.