Se meus últimos 70 dias passaram voando, eles também incluíram em meu HD mais informação do que eu imaginava possível ocorrer em um ano.

Se você começou a ler este texto achando que vou dar as respostas sobre como enfrentar sem sufoco e aproveitar ao máximo uma curva de aprendizado, peço desculpas pelo título caça-clique. Aqui, o que você vai encontrar é um relato pessoal sobre como está sendo, depois de anos trabalhando confortavelmente dentro da zona de conforto que criei na minha caixa, começar um novo emprego em uma função em construção dentro de uma empresa em franca expansão – sim, é rima e, espero, solução.
Curva de aprendizado, para quem não está familiarizado, é aquele período de tempo (às vezes parece uma eternidade, eu sei) em que estamos nos acostumando com novas tarefas, novos contextos, novas informações e novas responsabilidades. É como aprender a dirigir: no começo, a gente precisa prestar atenção a cada detalhe – marcha, volante, pedais, sinais – e parece que nunca vai conseguir fazer tudo ao mesmo tempo. Depois de um tempo, dirigir vira algo quase automático.
Mas, vamos combinar, enfrentar uma curva de aprendizado aos 20 e poucos anos é bem diferente de fazer isso aos 50. Não que seja pior ou melhor. É diferente. Na juventude, se temos mais energia e disposição para virar noites trabalhando, temos uma ansiedade por vezes exagerada e menos confiança no próprio taco. Na maturidade, por outro lado, a experiência e a resiliência ajudam, mas também bancam o grilo falante nos momentos “onde é que eu estava com a cabeça?”.
Se meus últimos 70 dias passaram voando, eles também incluíram em meu HD mais informação do que eu imaginava possível ocorrer em um ano. Tendo passado 12 anos trabalhando basicamente como recurso de empresas estrangeiras, escrevendo e-mails majoritariamente em inglês, a parte em que mais me divirto é na minha total desatualização em relação ao jargão corporativo e as tradicionais gírias motivadoras (minhas duas preferidas hoje são “vâmo, time” e “foguete não tem ré”).
Impressionante como tanto mudou. Admito que de vez em quando faço uma discreta busca no Google pra me certificar de que entendi o que estavam querendo dizer com um “alavancar sinergias”, um “desenhar estratégias disruptivas” ou um “entregar valor de forma contínua”. Da minha área de atuação anterior, ainda me impressiona que o “redator” tenha virado “copywriter” e o “texto”, “copy”.
Da minha parte, tenho a sorte de estar cercada por pessoas incríveis que têm me ajudado a “navegar” (outro termo que entrou na moda nesse meu período de “isolamento corporativo”) por tantas novidades. Não tenha vergonha de pedir ajuda, fazer perguntas e aprender com os erros (e acertos) deles. Ajuda demais receber a garantia de que ninguém espera que eu saiba tudo de cara, que fazer uma bobagem aqui e ter um esquecimento sobre o processo ali faz parte do processo de crescimento.
Felizmente, a nova empresa onde estou tem o aprendizado e o conhecimento como parte do tecido que sustenta o negócio. Aqui, todos entendem que aprender é um processo contínuo e que errar faz parte do caminho para o acerto. E é essa mentalidade que me faz acreditar que, mesmo que eu derrape em algumas curvas, sempre haverá uma nova oportunidade de retomar o caminho e seguir em frente.
Em suma, se você também está percorrendo uma curva de aprendizado, sugiro emprestar dos estoicos a ideia de “abraçar a possibilidade de derrapar”, respirar fundo, manter a calma e lembrar que cada curva é uma chance de crescimento e um caminho para fora da caixa e longe da zona de conforto. E quando chegar dentro de uma nova caixa em uma nova zona de conforto, começar tudo de novo. Estrada muito reta é monótona e dá sono.
