De onde tiraram que crescemos, fazemos, produzimos ou aprendemos mais quando estamos nos sentindo deslocados, desacomodados, incomodados, aflitos, inquietos ou pesarosos?
É amplamente validada por profissionais das mais diversas áreas a ideia de que a “zona de conforto” é sinônimo de coisa ruim. Muito ruim. Entendo que pululem definições de “zona de conforto” como algo indesejado e que 8 de cada 10 publicações motivacionais nas redes sociais nos urjam a sair dela para decolar rumo aos céus, num foguete que não dê ré. É ponto pacífico que os grandes visionários da humanidade tendiam a ser pessoas incapazes de sossegar o facho e que precisavam estar sempre em busca da nova revolução, da nova invenção, da nova inovação (usei esta só pela aliteração).
Agora, gente do céu, pensa aqui comigo: o que será que estavam buscando os gênios que nos deram a roda, a eletricidade, o motor a combustão, o telefone, o computador e o sorvete? Ganhou palminhas virtuais quem respondeu “facilitar e tornar mais agradável a própria vida e a vida dos outros”. Eles estavam fazendo o quê? Para usarmos um termo corrente no mundo dos negócios, tentando resolver as “dores” de seus pares. Buscando aprimorar a zona de conforto! Rá!
Daí você vai me dizer: Cássia, zona de conforto é um conceito da psicologia, usado para… Psiu! Shhh! Não é sobre isso que estou falando! Sobre isso existem milhares de artigos escritos por pessoas muito mais capacitadas do que eu, como o Zona de conforto: ela é realmente um problema?, do colega jornalista Alessandro Fernandes para a revista Vida Simples. Vá para lá e debata essa questão com ele. Aqui, estou falando sobre significado e sobre a minha zona de conforto, que as pessoas não fazem ideia do trabalho que dá pra continuar aconchegante e tranquila.
Como alguém que trabalha com texto, tendo a ser cismada e preciosista com a força das palavras (é favor deixar de fora a evidente história de que a língua é viva blablablá, de novo, não é este o ponto do texto), especialmente quando elas me são tão caras quanto a fofa, macia, cheirosa e fresquinha “conforto”. Eu sou tão fã, mas tão fã dela, que me permito até mesmo recorrer a um dos subterfúgios mais preguiçosos da escrita (cujo uso, ao contrário do que podem acreditar os detratores do conforto, gera em mim um intenso desconforto). Mas, que seja. Vamos ao Aulete.
conforto1 (con.for.to)
[ô]
sm.
1. Ação ou resultado de confortar
2. Aquilo que traz alívio, consolo: A meditação foi seu conforto.
3. Estado ou situação daquele que encontrou conforto (2), de quem se sente em paz, ajustado às circunstâncias: Econtrou conforto na meditação.
[F.: Dev. de confortar.]
conforto2 (con.for.to)
[ô]
1. Aquilo que proporciona comodidade, que causa bem-estar físico: Não se privava dos confortos da tecnologia, era adepto de todos os gadgets e engenhocas modernas.
2. A comodidade e o bem-estar assim proporcionados: Não abria mão do conforto dos hotéis de luxo, por mais caros que fossem.
3. Situação ou condição ou qualidade do que oferece proteção, tranquilidade, aconchego, comodidade etc.: Nada como o conforto do lar.: Preferia o conforto do antigo emprego a novos desafios.
[F.: Do ing. comfort.]
Quem, em sã consciência e com a terapia em dia sairia de bom grado de perto de alguma das definições acima? Não sei o prezado leitor, a prezada leitora, mas, da minha parte, garantir a manutenção da zona de conforto é o que me faz sair da cama todos os dias e ir em busca de mais trabalho, mais conhecimento, mais objetivos e, como consequência deles, mais tranquilidade. Mais conforto ainda.
Fica aqui uma sugestão: da próxima vez que forem esculhambar um conceito tão maravilhoso em nome de teorias de crescimento, aperfeiçoamento e quetais, façam antes uma busca no dicionário. Tivessem feito isso, hoje estaríamos sendo (muito mais apropriadamente) instados a sair da zona de conformismo, passividade, resignação, desinteresse, indiferença, indolência, preguiça, inércia, apatia, ou comodismo. E nosso conforto estaria em paz.
Para quem prefere, segue abaixo meu post reescrito pelo DeepSeek para ficar mais confortável de ler :-)
Por que a Zona de Conforto Não é o Vilão que Pintam
De onde surgiu a ideia de que só crescemos quando estamos desconfortáveis? Por que tantos coaches e gurus insistem que a “zona de conforto” é um lugar perigoso, cheio de estagnação e mediocridade? Será que essa visão não está, no mínimo, exagerada?
A verdade é que a zona de conforto ganhou uma reputação injusta. Muitos a tratam como sinônimo de preguiça, conformismo ou falta de ambição. Mas, se olharmos para a história, veremos que grandes invenções e descobertas surgiram justamente da busca por mais conforto e bem-estar. A roda, a eletricidade, o telefone, o computador e até o sorvete foram criados para facilitar a vida e torná-la mais agradável. Ou seja, os gênios por trás dessas inovações estavam, na verdade, expandindo a zona de conforto da humanidade.
O que é, afinal, a zona de conforto?
Segundo o dicionário Aulete, conforto é aquilo que traz alívio, consolo, comodidade e bem-estar. É o estado de quem se sente em paz, ajustado às circunstâncias. Quem, em sã consciência, não gostaria de viver assim? A zona de conforto não é sobre acomodação ou falta de ambição; é sobre criar um ambiente seguro e tranquilo que nos permita explorar novas possibilidades sem medo.
A zona de conforto como base para o crescimento
Ao contrário do que pregam os discursos motivacionais, a zona de conforto não é um lugar para fugir, mas sim uma base sólida para construir algo maior. Pense bem: quantas vezes você se sentiu mais criativo, produtivo ou corajoso quando estava em um ambiente seguro e acolhedor? Para muitas pessoas, a estabilidade emocional e física proporcionada pelo conforto é essencial para enfrentar desafios e buscar novos objetivos.
É claro que há momentos em que precisamos sair da nossa rotina e encarar o desconhecido. Mas isso não significa que devemos demonizar o conforto. Em vez de nos pressionarmos a sair da zona de conforto a qualquer custo, talvez devêssemos focar em sair da zona de conformismo – aquela em que nos acomodamos à mediocridade, à falta de propósito e à indiferença.
A importância de redefinir o conceito
A zona de conforto não é inimiga do crescimento; ela é uma aliada. Quando estamos confortáveis, temos mais energia e disposição para aprender, criar e inovar. O problema não é o conforto em si, mas como o utilizamos. Se usarmos a zona de conforto como um refúgio para evitar desafios, ela pode se tornar uma armadilha. Mas, se a encararmos como um ponto de partida, ela pode ser a base para conquistas incríveis.
Conclusão: conforto não é o oposto de crescimento
Da próxima vez que alguém disser que você precisa sair da zona de conforto para crescer, questione: será que o problema é o conforto ou a falta de propósito? Em vez de abandonar o que nos faz sentir seguros e tranquilos, que tal expandir essa zona para incluir novos desafios, aprendizados e conquistas?
Afinal, como diz o ditado: “Não é preciso quebrar a casa para construir um novo andar.” Às vezes, basta reformar e ampliar o que já temos. E, no final das contas, quem não gosta de um bom conforto?
